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2017

DESCULPA

 

Toda a menina pequena se quer espontânea e vibrante

Disse.

O aborrecimento é um rapazote adolescente que se tem por si e pelos outros no ardor do seu pulso.

E então pensou:

Acabei com o tédio mas não fiz mais nada.

 

E agora espera pelo Verão mesmo sabendo que ficará mais clara a tristeza quando então só puder esperar pelo Inverno.

Olho:

Em cada cara que conheço começo por ver as rugas e concavidades.

Gosto também da estrutura óssea e do interior da córnea.

Imagino então os movimentos da língua dentro da boca.

 

Engolir em seco

um bom bocejo

diz muito mais que várias teses sobre a actualidade.

 

Por fim:

Actualmente o antigamente invadiu o presente dos meus últimos dias.

....

(Desculpem este abrandamento mas dói-me o braço demasiado erguido e o outro de tão caído)

 

São tantas as desculpas a pedir a mim própria que não sei se alguma vez me poderei perdoar.

Concluiu.

 

25/06/2017

CASCALHO

 

Luz quente antes de dormir e o despejar das máquinas sobre a minha cabeça.

Sono.

Cada vez que penso “agora!” desdigo os ais da minha juventude e caio nos ãos dos meus futuros cães.

Ser mordida a vida toda para que te deixem marcas.

Mas foi o vento que mais me marcou. Arredondou as arestas e transformou-me em cascalho para rolar sempre em sentido contrário.

A sua dimensão

do vento

só visível na consequência dos vários pequenos danos

ou de uma só catástrofe digna de nota.

De dó.

 

 

Trapezoidal saiu-me o dia e não será o mundo a contradizer o devir do tempo.

Os segundos que teimosamente se senta a contar.

É normal. Perdoem-lhe. Ele ganha à hora e no final do mês só tem prejuízos.

 

Acabar os dias perante o tempo ou os dias a acabarem contigo pela soma das ínfimas fendas no quotidiano.

 

26/07/2017

 

 

CABELOS LONGOS SOBRE OS OMBROS

 

O verde escuro que morreu nos meus olhos pela falta de luz.

O céu embranquece antes de definitivamente escurecer.

O som dos pássaros acentua o silêncio mas isso já todos sabemos.

Sabemos também que o vazio é cheio e que nos engole como a luz tende para a escuridão de um buraco quando nada se interpõe para a refletir.

 

Já me saiu cara a pretensão de simplificar.

Mais ainda a de refletir.

 

O fumo enaltece o vazio

O álcool enaltece o vazio

Os cabelos longos sobre os ombros nem por isso e nada mais me faz brindar ao estupor dos dias.

 

Vivam!!

Vivam as coisas

Todas as coisas

 

As coisas várias. As mesmas mas com formas diferentes. As minhas e as dos outros. As perenes e as caducas. As visíveis e as que não. As duras e as moles e líquidas e bêbadas mas infalíveis e as que não conheço. Também as mesas e as cadeiras e pessoas sobre elas e pratos e copos sobre as coisas. E as coisas por cima e as outras por baixo e todas as outras tão próximas mas também as outras que estão longe.

E as opiniões sobre as coisas as opiniões sobre as coisas dos outros e as opiniões dos outros e as coisas dos outros. Sim.

Sempre sim.

Viva a celebração dos dias que passam envoltos em ténues sins.

Sim.

O fim sim, quer-se por fim são.

Para mim todo o fim é louco mas o começo não.

 

4/07/2017

 

BURACOS

 

Os bébés choram quando não têm quem lhes aperte os membros contra o corpo.

Os corpos adultos gostam de acordar com um outro corpo onde possam encaixar o próprio como um tapa buracos.

 

O buraco é perigo de fuga.

A fuga o escorrer indeterminável na ânsia de liberdade.

Mas para a grande grande enorme maioria liberdade é poder estar no colo que se quer quando se quer e como apetece com os bracinhos e as perninhas bem apertadinhos e seguros a protegerem-nos os buracos.

 

Ao acordar o galo experimenta a dimensão.

Nós levantamo-nos para lavar várias partes do corpo.

 

Colocamo-nos a descansar do trabalho infinito na superfície finita da nossa condição limitada e segura.

 

5/07/2017

 

 

VÍRGULA

 

Preferia não. Não o fazer. No entanto faço. Faço muito.

Faço para não pensar para não sentir para não amar e no final olho: amo, penso e sinto.

Sento-me, se for uma cadeira. Se for um livro, leio-o. Se for o jantar, como-o e algumas horas mais tarde cago-o, mas contigo gostaria que fosse diferente.

O suor que se espreme dos dois corpos é a alquimia das débeis aventuras que salpicam os mais atrozes caminhos.

Uma vírgula na enumeração sequencial e inconsequente dos dias todos.

 

Não é todos os dias que sabemos quem somos.

Hoje irei à praia para depois dela me aborrecer e sonhar com um mundo lá fora, diferente da areia e do mar. Um mundo com casas, pessoas, auto-estradas, serviços em estações e encontros entre meramente conhecidos que, um dia serão oásis, íntimos e ínfimos no seu pequeno quotidiano comum de amor e resistência à imensidão do mundo, do sol, do mar e do vento.

 

Uma corrente de ar orientada pela estreita abertura da pequena e castiça janela dos fundos.

Até que enfim. Se afundarão um no outro e viverão com asma.

 

15/07/2017

 

O SINAL

 

Para construir uma história de amor não especificamente amorosa devemos então ser leves e não agrestes.

Uma folha caiu. Aponta-se a delicadeza da folha como se ainda continuasse a cair, alentando o movimento e criando um espaço de subjectividade propício à sensibilidade comum do ser comum. Ao pressuposto de que não nos conhecemos adicionaremos a sensação que sim. Há muito tempo. Ao tempo de um tempo suspenso. Desse tempo faz-se um espaço e nele podem caber memórias e projetos futuros mas para isso tem de se desenhar o presente.

Deste modo podemos utilizar uma folha seca que, por exemplo, eternamente cai de uma árvore e simplesmente sublinhar, não a queda, mas a eternidade.

Ou então fazer notar um pequeno sinal que o outro tem no braço. Assinalamo-o. Esse sinal transforma-se num sinal e sabemos que, quer queira quer não, esse outro irá transportá-lo consigo.

No verão vê-lo-á muitas vezes e estará calor. Nesse calor lembrar-se-á que de quem o assinalou. O acorde acorda um sentimento e esse deverá, claro, ser agradável.

 

Depois temos o desenvolvimento. O desenvolvimento é a complexificação do ser simples. 

Esse lugar tem de ter uma medida certa para que não nos percamos no vazio e uma forma labiríntica para que não se torne aborrecido e, muito importante, para que não lhe vejamos o fim.

 

17/07/2017

 

FARPAS

 

Ao criar uma imagem não bastam formas e cores e espaços vazios entre contornos. É preciso pintar-lhe a boca, realçar os dizeres e imprimir o ir e vir de uma história.

 

Dar-lhe o tempo da criação de um som:

O peixe ri de nós por poder viver submerso.

A distância de uma imagem é o sufoco de um peixe sem ar.

Escamas secas são farpas no corpo que ninguém deseja acariciar.

Não há peixe macio fora do seu mundo e o que nos magoa afogamos no pântano.

 

Não era de todo esta a imagem que queria criar.

Enquanto isto como um robalo.

Queria só avisar que as imagens não se criam.

 

Arrogância.

 

Poderia ter-me apenas proposto a revelar o catalisador de uma química universal.

 

Prepotência.

 

As imagens não se revelam. As imagens apenas navegam no espaço líquido entre os ossos como um ácido que corrói as ferragens e nos erode até à traição da morte.

 

Bahhh...

 

O que decerto sei:

Em qualquer imagem se perdeu tudo o resto.

 

30/07/2017

 

DESENHO

 

O desenho de uma sombra numa parede pode ser mais belo que toda a minha biografia.

Como explicar isto? Não se explica. Isso não se faz. Não o farei ou estragaria a enunciação. Largo-a, lanço a anunciação aos ares dos montes.

Cá as pessoas dizem que as coisas estão mais ou menos, ou assim assim, que não vai nada mal devido à impossibilidade de se entregarem  à felicidade de uma sombra na parede.

 

Sombra na parede:

Laboriosamente desenhada pela mais poderosa estrela para o mundo que é também não mais que uma qualquer para o universo, no encontro com essa superfície de betão engenhosamente construída por um qualquer emigrante para nós enquanto que demiurgo para a parede.

 

Quem com isto se deteve:

É louco, ou está desempregado, ou ligeiramente deprimido, ou finalmente reformado sem mais o que fazer ou pensar.

 

Os outros, os que têm mais o que fazer e que pensar:

Merecedores do deslumbramento de quem inutilmente se emocionou com as linhas tortas e sem sentido desta sombra na parede mesmo que as coisas que têm de fazer e de pensar sejam tão tortas e sem sentido quanto as linhas projectadas naquela parede particularmente torta e sem sentido.

E se pensassem bem poderiam mesmo identificar-se com as sombras e as paredes e as suas linhas tortas e sem sentido, por isso é melhor Não. Não se deterem.

 

Isto não fui eu que escrevi. Foi o sol sobre a parede.

 

 

08/09/2017

 

 

 


ESTRATÉGIA NÃO SUICIDA

 

Há um caminho que nunca nos trai. O do desaparecimento.

Mas esse é um trilho mal desenhado e em que temos dificuldade em por os pés.

No entanto podemos sem hesitação por outras partes. Ombros. Costelas. Olhar. Bílis. Unhas. Linfa. Pensamentos. Joanetes. Mentira.

 

Mentira. Não se pode por partes mas apenas o todo e por isso é tão fiel e obscuro. Nunca pensamos que o mais fiável amigo possa ser o invisível. Mas não é a clareza que dói e que é apaziguada pelo apagar da luz? Fechar os olhos dos outros e desaparecer na densidade.

Perdoem-me por falar no plural mas é o plural que nos acolhe no tão desejado desaparecer. Anfitrião da terna invisibilidade onde o perdão não tem sequer lugar. Perdão. Perfeitamente dispensável vendo bem o que não se vê singular.

 

A imensidão do caminho.

A querela de dois marinheiros apaixonados pelo imenso oceano que os separa e acolhe dentro todos os peixinhos do mar.

Qual foi a última vez que pensaram em todos os peixinhos do mar?

Demasiado plural o cardume absoluto. Inteiramente sem sentido para o famoso caminho da visibilidade

Por alguma razão eles se escondem sob a fina superfície da linha da água.

São tantos em número e variedade que não podem ser pescados pelo pensamento.

 

O caminho do desaparecimento não é uma estratégia suicida. É como afogar uma bola insuflável e viver crescendo com a tensão do escape e de um salto.

 

10/09/2017

 

FRUTA

 

Jovens.

Jovens/crianças, entram em cena descalças em contacto directo com a poça que deixámos no chão.

Mijo.

 

Roubaram-nos. Tudo

Devem-nos. Tudo

Carreguem agora a consciência que não é vossa.

Os sapatos novos magoam atrás no calcanhar?

 

Jovens/crianças atiradas a uma tela à distância errada

e os seus pingos caem-nos para nos sujar o caminho. Imagine-se.

 

Imagine-se:

A imagem nublada dos contornos do mundo não voltará a rodear cores tão vivas. São pequenos frutos nectares a enfrascarem-se de frutos secos com aguardente.

Sabemos:

E a arrogância de carregarem mais futuro?

E a forçada humildade por lhes negarem passado? Imagine-se.

 

Ninguém é mais passado que estes seres. Passado duro, vivo, fresco, sem retoques nem condecorações. Passado de ontem.

Híbridos. Meio humanos meio animais.

Ainda.

Totalmente mitológicos de corpo coração e alma.

Projetos de seios imersos nesse ontem efervescente no corpo, que em tudo dele depende e que a ilustre realeza despreza.

 

- Cala-te que não sabes nada.

- Mas sei sim. Eu conheço o nada. O nada foi ainda agora. E não há nada em mim que já se tenha perdido a não ser uma dentição.

  

25/10/2017

 

TARADO

 

Uma tareia repele o tarado.

Uma alcateia repele o parado.

Uma centopeia repete o calçado e por qualquer razão repelir e repetir são semelhantes na sua insistência.

Já se apraz o repetente de repelir o ansioso pela originalidade ignorando este a constância da ânsia na repetição da génese.

 

Gerar novidade

Dormir

Comer

Saber prever as próximas palavras do ser amado.

Amado é passado. Inverno da novidade.

Tomar para si com afeição o pouco que já se conhece na esperança que um dia seja muito, seja um mundo.

Demasiado.

A criação de uma bela narrativa. De uma bela cosmogonia.

Nasci para te ter e assim foi o verbo.

 

Demasiado.

 

Uma tareia repete o tarado que tirou de maneira o amado da cadeira e repele o cansado que com areia comeu, repetidamente, um beijo molhado.

 

Repetidamente.

 

1/11/2017


POR TRÁS

 

A vontade de me destruir pelo mundo não é algo de razoável para se ter.

Ter como definição deste mundo?

Não ter é também não ter essa vontade.

Não ter. Destruir-me pelo mundo.

Navegar nas suas partículas sem pretensão de forma. Mesmo esta. Que dou a estas palavras que não são mais que os grãos de areia que vejo na minha frente com os meus próprios olhos.

Grãos de areia e próprios olhos.

Não ter frente como quem não tem olhos.

Olhos cheios da areia que está na minha frente

Não ter dor

Não ter de os piscar interrompendo a continuidade do que vejo na minha frente. Os grãos de areia

Frente apenas porque atrás de mim não vejo. Mas sinto-o.

É assim o passado.

É assim o futuro.

E somos o contrário de tudo isso. Fisicamente contrariados, portanto.

Sentir o trás ver a frente. Recordar o que passou projetar nos grãos de areia o que se segue.

O trás no tempo podemos com propriedade descrever mas não o que se lhe seguirá.

 

Porque será que fomos feitos ao contrário do tempo?

 

Corpos que após a explosão primordial se agitam velozes para a frente que se desbrava esbracejando pelo presente, pisando o passado e almejando o alvo que não é mais que a nossa destruição pelo mundo.

Morrer. Mortos por ele. Não a seu favor.

 

Matar a praga depois de ter sido comunidade – diz.

 

28/11/2017

 

MAR

 

O mar é bravo e tu? O mar sobreleva coisas enquanto a maré enche. E tu? O mar faz flutuar o que tem ar mas empurra ao fundo o que já não tem espaço por dentro. E tu? O mesmo mar. O mar que é sempre o mesmo, mais coisa menos coisa, mais chuva menos chuva. Mas ele se vaza. Vaza da praia. Desencosta-se. E tu? Baza de costas e leva. Tudo. No seu recolher a outro lado do oceano.

Tanto mundo que fica no mar alto que a bem dizer é mais fundo que esguio. Esse mar baza e extravaza dali. E tu? Mais coisa menos coisa. Mais gota menos lágrima.

E tu choras? Dói-te puxar para dentro com medo da costa? As minha costas. Uma barreira na conquista do teu mar. Pergunto.

 

Não. Navega então em maré cheia e invade-me as costelas a pleura e os pulmões. Enche-os de ar para que flutue em cima de ti. Dedilha-me as vértebras como um invisual e depois dá-me o que é normal.

O mar não vê e mesmo assim não perde a lua e onde tem de ir.

Encosta-te à costa, inunda as minhas pernas e aventura-te no bater das ondas que o vazar não tarda.

 

30/11/2017

 

GARFADA

 

Há pessoas que se cruzam nas palavras cruzadas puxando e sofrendo pela cabeça.

Um jarro de vinho à espera.

A recompensa para o depois que já não deve tardar.

Outros. Outras.

Alimentam as crias. As crias que gritam, as crias que choram, sorriem, olham e mexem em tudo e por tudo em todo o lado. A rasgar e a sofrer na pressa das horas que correm nos pequenos corpos. Desejo de crescer. O comer.

Outros descansam os talheres enquanto ativam a boca e depois descansam a boca para se concentrarem com precisão nos pulsos, nas mãos, nos dedos e na carne com as batatas e um pouco de molho à boca.

De novo uma garfada.

Refeição. Dia. Vida.

Uma palavra que se cruza com as outras perdida entre o choro de uma criança. Insolúvel.

Entretanto ninguém viu o que aconteceu.

Entre isto e aquilo. Horizontal e vertical.

Uma janela enorme de correr. Suja de correr.

Chorões, ruínas e espuma.

Bébés chorões, dentes como rochas e as bocas espumando entre sabores e dizeres de palavras.

Os dias sem espuma. A seco. Em pó.

O pó dos dias opôs as crias no seu cruzamento.

 

E agora vou beber o café que arrefece e depois pagar com multibanco.

 

01/12/2017

 

 

 

PORRA

 

As portas do metro abrem.

Entra uma bengala tacteante e a seguir a bengala uma mulher e na cara da mulher duas cavidades oculares sem olhos e na voz da mulher o tenha a bondade e a possibilidade de me auxiliar.

E mais nada.

E as portas fecham.

E as portas abrem.

E as portas fecham e abrem de novo e de novo uma bengala, agora com um homem que a segue e na sua cara uns óculos escuros que não o protegem da escuridão e na mão que não tem a bengala uma garrafa de plástico cortada com umas moedas lá dentro e na voz a mesma história mas num timbre diferente.

As palavras exactas.

À sua volta nada.

E de novo as portas que abrem e que fecham e foi tão normal, tão vulgar, ordinário mesmo. Apenas dois e já fazem um padrão, tão normal, coerente, consequente, familiar até.

Um cego mais um cego igual a dois pedintes.

E há as pessoas sentadas que vêem, que vêem tudo, cores, formas, movimentos, padrões, floridos, geométricos, risquinhas, pié de poule e cegos/padrão que entram com as suas bengalinhas tiquelitantes e as suas diversas vozes nas mesmas palavras a assumir e a requisitar a nossa bondade. A bondade do mundo à sua volta, que não vêem mas que acreditam existir e caso haja também possibilidade poderá até resultar num pequeno auxílio.

Convenhamos. Eles são cegos. É uma inadequação ao nosso mundo que, vendo bem, não é o deles porque este é um mundo visível e se não tens a bondade ou a possibilidade de o ver então deves viver na dependência da bondade e da possibilidade alheia em que depositas uma fé, sim, cega como tu para colmatar a tua ineficácia e alheamento relativa a este nosso mundo que te negas a ver.

E é normal, tão vulgar, tão adequado que quando as portas abrem apetece aproveitar a possibilidade e a bondade do corpo para regurgitar um nojo bem visível de tão normal, tão vulgar, ordinário e esotérico como o castigo de deus.

Vivem assim e não fizeram nada para mudar o seu estilo de vida. Ou será que por não terem olhinhos me/nos são superiores ou merecem especiais honras de estado?

Mais sofrimento. Menos corpo. Maior abstracção. Superiores. Sim.

- Deus. Fizeste-nos do avesso.

 

Porra.

 

15/12/2017

 

 

 

 


MEDO

 

Falando de medo:

O medo vem com o saber. O medo vem com o saber de coisas. Com o saber de coisas que são tão coisas como as coisas que custam moedas e são um mal financeiro. Vê-se ao longe e de perto muito mal financeiro que é um medo sendo que o medo é também visto como um mal. O mal dos fracos que conhecem que as coisas metem medo porque estão embuídos do bem financeiro que não podem ter por sofrerem do mal financeiro enquanto os destemidos, os bravos, os corajosos, detêm muito bem financeiro provavelmente desde bem pequeninos mas têm também medo, lá no fundo do seu cofre, porque têm medo do medo dos que sofrem do mal financeiro sendo que estes podem ficar fartos de ter medo e mesmo cagados de medo terem a bravura de roubar ou mesmo vandalizar, selvagens, o tal bem financeiro e isso dá medo e nervos. E tudo isto é como choques eléctricos, bombas de adrenalina, olhares suspeitos, noites sem dormir e são os nervos do mundo, atritos com classe, de classificados e classificações que não deixam ninguém dormir sem medo. O retrato do sono dos justos e dos injustos. O medo que surge no meio do medo da noite. Os olhos abertos. Tectos, muitos tectos, alguns ao relento, muitos sem tecto para olhar durante a insónia do medo, ou se calhar já não porque já não há céu a perder. Os outros, os com tecto têm ainda gavetas, cofres, malas, contas abertas fechadas no banco e tudo o que está fechado pode ser aberto e isso é aterrador.

Imagine-se então o sono de todos. Uns assim outros com calor mas todos acordados pelo mesmo. Um terror financeiro. Uma inspiração, uma expiração, a respiração lapidada pelo medo. O embate nessa rocha gigante. O medo transformado em ar, em músculos, em nervos. O medo parado, estático de mãos nos bolsos agarrado ao que tem ou constatando o que lhe falta. O seu olhar no olhar de todos refletido. É este o sono disto tudo. É este o sonho disto tudo. E todos nós pequenos. Pequenos os pequenos e pequenos os grandes do mundo perante o medo. O medo pelos outros, o medo pelos seus, o medo por si, o medo por ti e o medo do teu medo e de que uns outros percebam que és um coninhas de merda cheio de medo só porque não sabes como vais viver no mês seguinte.

 

20/12/2017

 

 

 

in progress

 

Cada vez gosto mais das pessoas que estão ao contrário do mundo.

Cada vez mais gosto de pessoas que estão ao contrário do mundo.

Cada vez que gosto de pessoas estão ao contrário do mundo.

Cada vez que gosto mais de pessoas fico ao contrário do mundo.

Cada vez que gosto de mais pessoas contrario o mundo.

Cada vez que gosto do mundo as pessoas ficam mais ao contrário.

Cada vez que contrario as pessoas gosto mais do mundo.

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